Prédio da creche Catarina Labouré se esvazia

Prédio da creche Catarina Labouré se esvazia

“É muito triste isso tudo acabar assim.” Irmã Aparecida, de hábito claro, acompanha o bota-fora do mobiliário que preenchia o interior do edifício da agora finda creche Catarina Labouré, na rua Cipriano Barata.

Profissionais da empresa de mudanças contratada embalam colchões, cadeiras, mesas com plástico-bolha e os conduzem para dentro do caminhão-baú estacionado à porta, na rua.

É o fim. Irmã Aparecida observa, pergunta se as providências foram tomadas.

O espólio, que deu guarida a religiosas vicentinas e a órfãos e nos últimos 50 anos acolheu milhares de crianças como centro de educação infantil, parte para o Rio de Janeiro e nunca mais voltará.

Inquieta percorrer as vísceras vazias de vida desse edifício imponente e labiríntico, tombado pelo patrimônio histórico.

São só os espaços vazios ou quase à meia-luz ou na escuridão e sinal da presença de gente já não há.

Sumiram as freiras, os professores, todas as “tias”, todas as crianças. Nada de preces, nada de vozes.

O encerramento das atividades da creche Catarina Labouré foi comunicado aos pais já no fim do ano letivo, em dezembro, mas a intenção de fechar as portas vinha sendo discutida pelas irmãs da Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, proprietárias do imóvel e gestoras dessa obra beneficente, havia cinco anos.

Uma negociação está avançada para a locação do imóvel a uma empresa interessada. O nome dela não é sabido.

Era aqui a famosa Capela do Dispensário Medalha Milagrosa, numa grande sala do primeiro andar do edifício principal, à qual se chega depois de subir lances de escada e dobrar à direita. Do lado esquerdo, janelas retangulares com vidros coloridos translúcidos que formam a cruz e coam o céu. À frente, uma sequência de vãos semicirculares e ao fundo, em tons de azul-claro, o recinto onde elevava-se o altar.

Só restaram ali pedaços de fitas adesivas e de papelão e muita solidão. Por que me abandonaste?

Caminhando-se pelo lado oposto da capela há salas que se desdobram em mais salas, corredores tão longos e escuros de temer um precipício, aposentos dos dois lados e ao fim o lavatório, claro.


Desavisadas, três candidatas esperam no saguão de entrada, no térreo, a presença de alguém a quem possam entregar o currículo e pleitear uma posição no local. Descobrem então que a instituição ali fechou, “mas continuará em outro lugar”.
As mais de 200 crianças que ali estudavam vão ser remanejadas a outras creches das redondezas e a uma nova creche em montagem, na rua Brigadeiro Jordão. Mas pais se queixam da falta de informação e de orientação das autoridades e não sabem ainda onde seus filhos vão estudar. O ano letivo se inicia no próximo dia 6 de fevereiro, daqui a 18 dias.

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